Pronto Socorro: excesso de pacientes e falta de repasse provocam caos
Com déficit financeiro mensal, atendimento será focado somente em casos graves.
Em coletiva de imprensa na última quarta-feira, 30, a Diretoria Executiva e Conselho de Administração do Hospital 'Carlos Fernando Malzoni' se reuniu para expor um balanço do atendimento no serviço de urgência e emergência. Único na cidade de Matão, o Pronto Socorro realiza anualmente a média de 50 mil atendimentos, em sua grande maioria provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS) .
O número não para de crescer, de acordo com o secretário da Diretoria Executiva, Dr. Paulo Augusto Bernardi, um comparativo entre os dois primeiros meses de 2014 e 2015, apontam um aumento de 11% em Matão e 24% em Dobrada. “Isso nos preocupa porque, desde 2014, estamos verificando um déficit mensal nas contas do Pronto Socorro. Ou seja, somando os anos de 2014 e 2015, mais de 6 milhões de reais dos cofres do Hospital foram utilizados para arcar com o serviço”, explica o secretário, que ainda completa. “Como pagamos isso? Nós pagamos com a eficiência nos nossos serviços e com a implantação das chamadas altas complexidades”.
De acordo com dados apresentados, uma projeção dos valores investidos do fundo do Hospital para cobrir as contas do Pronto Socorro em três anos, ultrapassaria 10 milhões de reais. “O Hospital não reúne mais condições de arcar com essa responsabilidade Não podemos mais sob pena de em um tempo muito curto o Hospital ter que diminuir as nossas novas implantações de serviços ou então, daqui um certo tempo, nós nos tornamos uma instituição deficitária, que não tem condições de investir. Nós entendemos que essa responsabilidade não é nossa, é do município”, afirma Bernardi.
Em 2014 foi assinado junto ao município um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), na época o governo municipal passou a pagar 180 mil reais mensais como complemento das despesas dos pacientes SUS no Pronto Socorro. “Esse valor aumentou para um contrato de 190 mil como prestação de serviço e este ano para 211 mil. Porém, o valor, mesmo com o aumento, não cobre nossas despesas, gerando um déficit anual de quase 4 milhões de reais”, argumenta o advogado.
Pacientes verde e azuis serão encaminhados
Com o constante aumento no número de atendimentos, a última reunião do Conselho Municipal de Saúde abordou uma solução para a lotação do Pronto Socorro. “Sugerimos a criação de tendas ou a abertura de um local próximo ao hospital para atender esses pacientes verdes e azuis – trabalhamos com o Protocolo de Manchester, que classifica os pacientes em cores, cada uma delas corresponde a uma gravidade (verde e azul são considerados menos graves). Entretanto, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que as unidades básicas de saúde e PSFs são suficientes para atender a demanda da cidade, determinando o encaminhamento dos pacientes que não apresentam urgência”, explica a administradora hospitalar, Denise Minelli.
Diante dos números crescentes de pacientes com suspeitas de dengue e gripe H1N1, o Pronto Socorro encaminhará casos verdes e azuis para os postos de saúde. “O paciente será atendido por um médico que ao classificá-lo como menos grave o encaminhará a uma unidade básica de saúde do município. Dessa forma 'desafogamos' o Pronto Socorro, que prioriza os atendimentos de urgência e emergência”, destaca.
Providências
A Diretoria do Hospital entrou nos últimos dias com uma representação no Ministério Público solicitando que o município arque com as despesas do Pronto Socorro. “Estamos tomando providências e queremos que a população seja alertada para que utilize o Hospital em casos de urência e emergência, ou que a Prefeitura arque com o que lhe é devido”, complementa o Presidente do Conselho Administrativo, João Marchesan.
“Nós somos prestadores de serviço, por isso nós não temos condições de absorver, mesmo tirando recurso de outros departamentos que são rentáveis. A responsabilidade disso é do governo, no caso do pronto atendimento, é responsabilidade do governo municipal. Nós não conseguimos trabalhar sem receber e é isso que está acontecendo, se seguirmos dessa forma, projetando as epidemias de dengue e H1N1, nós tocamos o Hospital de um ano e meio a dois anos”, revela José Reynaldo Trevizaneli, Presidente da Diretoria Executiva.